sexta-feira, 26 de junho de 2015

Desmatamento ocular e a volta dos que não foram

  Sexta-feira. 26 de junho de 2015. 23 horas e 09 minutos. Depois de mais de 1 ano, estou reativando o finado blog. Como vocês deveriam saber, não é bom ficar mexendo e compartilhando na internet cenas de coisas que já morreram... Mas eu tava com saudade desse aglomerado de bobajada.

Existem algumas coisas que vão embora e jamais retornam (como por exemplo, o extinto Respeito). Outras merecidamente passam anos nas profundezas do esquecimento e acabam retornando, como o Latino e este blog. Se você tem renite sugiro sair do ambiente devido ao excesso de poeira nos móveis do blog.

Estou voltando a escrever neste blog pelo mesmo motivo que fez com que minha vida tomasse o rumo que tomou: eu não tenho a mínima ideia do que fez com que minha vida tomasse o rumo que tomou. Paciência. 

A verdade é que faz tempo que não escrevo, devo estar meio enferrujado. Talves cometa alguns erros de ortografia, mais nada muito grave. ou esqueça de iniciar algumas frases com letra maiúscula. Posso ainda esquecer de pontuar o final de algumas frases. Mas todo mundo erra, você não acha

Mas ATENÇÃO: esse post fere e agride ferozmente a família tradicional brasileira! 

Por que? Vou direto ao ponto: hoje, pela primeira vez na vida, eu fiz a sobrancelha! 


Eu fiz a sobrancelha no mesmo dia em que os EUA aprovaram o casamento gay. Coincidência? Hmmmmmmm... Eu acho que sim. (Sobre isso só tenho a dizer que: a liberação do casamento gay tem como principal consequência a ocorrência de mais festas onde se pode comer e beber de graça...Não tem como isso ser ruim!). A última vez que vi tudo colorido desse jeito eu estava em Amsterdã por motivos que não vem ao caso expor...
Felipão também entrou na onda... (Foto: Bastian Schweinsteiger)
Mas vamos voltar a t̶a̶t̶u̶r̶a̶n̶a minha sobrancelha. Eu costumava tirar só o meio, tentando evitar a famosa monocelha. Mas infelizmente o aparador de gramas aqui de casa queimou e minha sobrancelha já estava parecendo o logo do McDonald’s. 
Acredite se quiser: havia um humano debaixo destas sobrancelhas (Foto: Monteiro Lobato)
Então minha namorada e minha mãe me sugeriram que talvez fosse bom eu ir até um jardineiro para aparar as pontas da minha sobrancelha, já que com o frio aranhas e escorpiões poderiam usá-la como abrigo. Elas foram super gentis praticando o famigerado bullying.

Depois de muito pensar no assunto (leia-se chorar no meu quarto escuro lamentando pela genética ter colocado dois bigodes extras na minha testa), resolvi encarar a realidade e tentar ver a vida de um jeito diferente (já que alguns pelos da sobrancelha já estavam tapando minha visão).

Primeiramente, claro, corri atrás da papelada pra conseguir uma licença do IBAMA pra remoção do animal silvestre que vivia sob meus olhos.

Consegui e chegou o grande dia (famoso hoje). Cheguei no salão meio cabreiro, pensativo. Será que ia doer? Será que haveriam muitas sequelas? Será que a mãe ia fazer cachorro-quente ao invés de janta hoje?

A resposta para todas estas perguntas era sim (o cachorro-quente estava uma delícia)... Sentei na cadeira e suspirei como se fosse meu último suspiro na cadeira elétrica. A moça disse: "se quiser fechar os olhos, é melhor". Aaaaaaaaah meu amigo, nessa hora eu já estava vendo a luz no fim do túnel. Quando alguém diz pra você: “é melhor fechar os olhos” é que algo bom não vem por aí. (Lembre-se disso quando chegar aos 45 anos e tiver que fazer um exame de próstata).

Fechei os olhos e esperei a morte senti algo quente sob meus olhos. Era um quentinho aconchegante, até esbocei um sorriso de canto de boca... Que durou poucos segundos. Quando a moça puxou aquilo, ela removeu alguns pelos, minha pele, minhas vísceras, minha vontade de viver, minha esperança de um mundo melhor.. Descobri por quê chamam aquilo de cera: é porque você fica pensando: Cerá que eu vou sobreviver? (O que foi, os trocadilhos ruins também estão de volta!).
Quando a moça puxou a cera eu já tava imaginando que ia ficar assim.
(Foto:  Alberto Youssef)
Uma lágrima saiu do meu olho esquerdo. Tinha sido só a primeira. A pior parte ainda estava por vir.
No final da "depilação ocular" eu estava me sentindo assim (Foto: Scott Summers)

A moça então pegou um instrumento de tortura, muito usado na Idade Média pela Inquisição para punir quem ousasse pensar: uma pinça.
Pra quem nunca tirou a sobrancelha num salão, é mais ou menos assim. (Foto: Jair Bolsonaro).
Sério, aquilo é desumano. Causa uma dor na alma. É uma dor que causa os sentimentos mais repulsivos que um humano pode ter. Uma dor que causa raiva de viver nesse nosso mundão asqueroso. Talvez Nero só tenha botado fogo em Roma porque queria descontar sua raiva depois de tirar a sobrancelha.

Mas aguentei firme (e ainda não botei fogo em nada. Ainda). Depois de uns 20 minutos de tortura a moça disse num tom sarcástico: “Pronto”.

Minha vida voltou a fazer sentido! Mas como nenhuma alegria na minha vida costuma durar muito tempo, tudo foi por água abaixo quando ela disse: “Agora falta só o outro lado”.

(Foto: Chico Buarque)
CARALH*! DEIXA ESSA DROGA ASSIM, talvez ninguém perceba. (Pensei eu).

Pela primeira vez na vida eu tive vontade de ser um cíclope! Nunca o ditado “Em Terra de cego quem tem um olho é rei” fez tanto sentido.


Enquanto ela removia qualquer resquício de vida silvestre que já habitou aquele lugar inóspito acima dos meus olhos, algumas pessoas chegavam. Mesmo com os olhos fechados eu conseguia ver que elas me olhavam de um jeito estranho. Certamente pensaram: “Hmmmmmmm esse entra na piscina pela escadinha” (E entro mesmo, não sei nadar. Qual o problema?). Ou talvez “Hmmmmmm esse vai jantar fora e pede uma Fanta Uva”. (Isso jamais!). 

Como eu acho que entro na piscina.
Como realmente eu estou entrando.
Enfim, lá se foram mais 20 minutos de melancolia, agonia e escuridão (no sentido figurado e literal, já que em nenhum momento ousei abrir os olhos).

No final, depois de terminado, ela me perguntou: “Doeu muito!?”, do mesmo modo que um ladrão de órgãos remove um rim da vítima sem anestesia e pergunta: “foi bom pra você?”
Tirando a parte em que desmaiei de dor, foi de boas.
No chão tinha tanto pelo que parecia que eu tinha cortado o cabelo. Minha sobrancelha estava tão grande que durante o corte foram encontrados o avião da Malasya e vestígios de uma civilização antiga. Infelizmente o Respeito continua desaparecido.
O chão ficou mais ou menos assim (Foto: Tony Ramos)

Eu fiz a sobrancelha. Sobrevivi, mas nem tanto. Posso não ter ficado bonito, mas... mas nada não. Só isso mesmo.



Câmbio, desligo.

4 comentários:

  1. HAUEHAEUHAUE muito bom! Olha, não sei se ajuda, ou se vc irá voltar ao famigerado ambiente de tortura, mas, nas próximas (outras) vezes dói menos kkkkkk

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  2. HAUEHAEUHAUE muito bom! Olha, não sei se ajuda, ou se vc irá voltar ao famigerado ambiente de tortura, mas, nas próximas (outras) vezes dói menos kkkkkk

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  3. Nossa cara, que bom que este blog voltou ao mundo dos vivos (ou quase).
    Já havia perdido as esperanças.

    Pra variar, me lasquei de rir. Tu é fera guri

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    1. Valeu mesmo. Fico feliz quando tenho o feed back de todos os meus leitores (no caso 3. Eram 4, mas um desistiu).
      Pretendo postar coisas aqui com mais frequência. Ao invés de escrever um post a cada 3 anos talvez diminuir esse intervalo para 2 anos, quem sabe 2 anos e meio.

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