quarta-feira, 12 de julho de 2017

Taca le pau nesse carrinho

Quarta-feira, 12 de julho de 2017. 21 horas e 23 minutos. Faz tempo que não escrevo nada aqui. O blog está mais esquecido que o Felipe Dylon e com mais pó que o avião do Perrela.

Existem coisas que desaparecem e nunca mais voltam, como o menino do Acre e o finado respeito. Outras somem repentinamente, provocando o caos, mas retornam para alívio de todos, como o Twelves, macaco do Latino. Outras ainda merecidamente passam anos nas profundezas do esquecimento e infelizmente acabam retornando, como o próprio Latino e esse blog.

Eu tenho 23 anos (com percentual de erro de 10 anos para mais ou para menos, dependendo da situação) e jamais havia dirigido um carro. Até o Marcos, uma criança que tem no máximo 10 anos, já dirigia seu veículo perigosamente, para desespero da Vó Salvelina.

Queria ter as mesmas habilidades automotivas que o Marcos tem.

E sinceramente não sentia a menor falta. O que posso dizer? Eu estava feliz com minha bicicleta andando por aí de forma segura, sem o freio de trás e quase sendo esmagado pelos motoristas do transporte público da cidade.

Adiei o máximo que eu pude a entrada no processo de habilitação. Mas ao contrário do Twelves, macaco do Latino, eu não pude fugir. Em dezembro do ano passado dei entrada no processo.

Eu sabia que teria que desembolsar uma grana pra fazer a carteira. Mas não imaginei que seria tanto assim. Quando fiquei sabendo do preço eu exclamei: “Moça, eu quero só a carteira de habilitação mesmo, não quero comprar o carro da autoescola não”.

Em janeiro começaram as aulas teóricas, que basicamente ensinavam coisas óbvias. Quero dizer, a não ser que você seja o Thor Batista, é esperado que você saiba que é errado passar com o carro por cima das pessoas.

Passaram as aulas teóricas, fiz o teste teórico e estava apto para começar as famigeradas aulas práticas. Já na minha primeira aula, infelizmente, sujei a lataria do carro com o sangue de alguns civis que andavam pela calçada.

(Calma galera, era no simulador…)

O simulador da autoescola é muito parecido com o GTA. Digo isso porque o simulador é cheio dos bugs. Logo na segunda aula começaram a cair pessoas do céu e eu levei uma multa porque um pedestre caiu em cima do meu carro (?). Eu não sei, mas tenho quase certeza que era o Padre do Balão.

O pedestre que caiu em cima do meu carro era mais ou menos assim.
Na terceira aula começaram a aparecer carros voadores. Fiquei putaço. Estava pagando caro naquilo, pra quê? Para todos os carros voarem, menos o meu?

Terminei as aulas no simulador (infelizmente não descobri como fazer o carro voar) e logo comecei a fazer as aulas práticas em um carro de verdade. Agora eu não poderia cometer erros graves, como subir em cima da calçada ou atropelar pedestres que caem do céu.

Lembrando que eu nunca tinha dirigido um carro. Ao sentar ali eu estava com o mesmo sentimento do Michel Temer ao assumir a presidência do Brasil: não tinha a mínima ideia de como dirigir aquilo.

Na primeira aula o instrutor me apresentou o carro. O que ele disse deve ter sido algo mais ou menos assim:
“Olha, existem três pedais. O da direita é o acelerador, usado para aumentar a velocidade do carro. O do meio é o freio, que diminui a velocidade do carro. O da esquerda é a embreagem, usada para controlar a troca de marcha do carro. Essa alavanquinha aqui é o câmbio, que você vai usar pra trocar de marcha”.

Porém, o que eu entendi foi o seguinte:

“Olha, existem três pedais. O da direita é o acelerador, usado para parar o carro quando você for bater. O do meio é o freio, mas não esquenta, se você pisar no acelerador com força o carro vai parar sozinho com segurança. O da esquerda é a embreagem, mas esquece que você nunca vai aprender a controlar essa merda. Essa alavanquinha aqui é o pênis do próprio demônio, que você vai fingir que sabe usar.”

Eu tentando entender como funciona o controle de embreagem na subida.

Pois bem, sabendo disso, logo coloquei o carro em movimento. Engatei a primeira e me senti como o primeiro cara que rompeu a barreira do som. Então atingi 10km/h, me desesperei, tentei apertar o freio com a mão (não me pergunte como) e o carro apagou.

Como eu achei que estava dirigindo...

Como eu realmente estava dirigindo.
O instrutor então me pediu para fazer uma conversão a esquerda. Naquele momento era mais fácil uma Testemunha de Jeová fazer a conversão de um ateu do que eu fazer uma conversão a esquerda.

Passaram mais algumas aulas, deixei o carro apagar inúmeras vezes no meio de cruzamentos perigosos, colocando em risco a minha vida e a do instrutor. Também furei algumas preferenciais, subi na calçada…. Só não fiz meu carro voar. Infelizmente.

Depois de finalizar as aulas, chegou então o grande dia. Faltava o último chefão para fechar o joguinho, salvar a princesa do castelo e leva-la para dar umas voltas de carro comigo.

Como eu via minha relação com o examinador do DETRAN.

Aqui no Paraná você deve fazer uma baliza dentro do próprio Detran antes de sair para o teste prático na rua. Entrei no carro, coloquei o cinto, girei a chave e pensei: “PQP, seria tão mais fácil se esse carro voasse”. Mas aí lembrei de todas as 76 vídeo-aulas que assisti no YouTube de como fazer a baliza.

Eu estava muito nervoso. Achei que não ia entrar, mas entrou. E, ao contrário do que eu esperava, terminei bem rápido. Igual a minha primeira vezAaah, deixa pra lá.

O primeiro chefão estava derrotado. Eu estava me sentindo o próprio Ayrton Senna por ter acertado a baliza. Hora de ir pra rua.

Na rua eu realmente dirigi igual ao Ayrton Senna. Igual ao Ayrton Senna bêbado, com mal de Parkinson e Alzheimer. Eu basicamente esqueci de trocar de marcha, furei uma preferencial e quando o cara mandou eu estacionar o carro eu meio que só parei o carro no meio da rua e desci do veículo já sabendo que havia reprovado.
Depois de descer do carro e perceber o tanto de cagada que eu fiz essa foi a primeira opção que me veio a cabeça.

Creio que um pouco da culpa por eu não ter me saído muito bem atrás do volante (lê-se: ser um completo imbecil) é por conviver com portugueses durante 2 anos. Portugueses são péssimos com direção. E essa péssima falta de direção dos portugueses sempre dá merda, como a descoberta do Brasil em 1500.

Voltei pra casa de ônibus, aquele que pensei que seria meu único meio de transporte motorizado para o resto da vida. No caminho, tomei uma decisão: passaria na padaria da esquina comprar coxinha, porque era dia de promoção. Ah, e também pensei: vou treinar até me tornar o melhor motorista do mundo!

Apesar da decepção, eu estava motivado. Quando cheguei em casa, sabem o que eu fiz? Isso mesmo, deitei em minha cama em posição fetal e comecei a chorar igual uma menininha ao descobrir o fim do One Direction.


Eu te entendo, Cebolinha.

Passado alguns dias, treinei com o carro do meu irmão. Deixei o carro apagar inúmeras vezes no meio de cruzamentos perigosos, furei algumas preferenciais, subi na calçada, enfim. Só não consegui fazer o carro dele voar. Infelizmente.

Hoje fiz o teste prático novamente. Dessa vez deu tudo certo. Inspirado no grande piloto Marco Véio, troquei de marcha naturalmente, fiz as conversões tal como Jesus em seus melhores dias e não furei nenhuma preferencial.

Existe uma pressão da sociedade onde parece que a pessoa só atinge a maioridade depois de conseguir a carteira de habilitação. Se assim for, hoje eu completei 18 anos novamente.

Mas não me deem os parabéns. Não fiz mais do que minha obrigação.

Deixem para me dar os parabéns quando conseguir fazer o carro voar.

Câmbio, desligo.